sábado, 19 de abril de 2008

A Bonequinha Anna

- Oh menina, onde vais com tanta pressa? - perguntou a mãe aflita.
- Vou passear com minha boneca! - disse estranhamente a menina. Era noite, não havia ninguém nas ruas e a menina Sofia andava apressada. Sua mãe teve de largar os afazeres para correr atrás da menina que saía desesperada. Não sabia para onde ia, andava sem rumo, saltitante pela rua esburacada da cidade segurando sua boneca pelo braço. Sofia era bem alegre, espontânea e decidida, mesmo tendo somente cinco anos. Adorava brincar com sua boneca que ganhara em seu aniversário. Tinha nome também, era Anna. Era de porcelana, tinha cabelos loiros, olhos azuis e a boca cor-de-rosa. Os sapatinhos eram de pano, com cadarços pretos.

Sofia dizia à mãe que a boneca falava, mas não dava ouvidos. "Criança tende a imaginar essas coisas" - dizia a mãe rindo. Um dia Sofia até levou umas palmadas por dizer que Anna queria comer doce-de-leite. Marie - sua mãe chamava-se Marie - achara que as imaginações de sua filha estavam indo longe demais. Eventualmente, ouvia Sofia conversar com Anna de madrugada. Quando saía para brincar no jardim, via Sofia roubar doces para dar à boneca. E ainda sendo repreendida, teimava em dizer que não era imaginação, que a boneca realmente falava.

Sofia ultrapassou todos os limites quando saiu correndo de casa à noite, com Anna debaixo do braço. Marie não conseguia alcançar a menina, que corria como um gato assustado.

- Sofia, espere! É perigoso andar há essas horas da noite sozinha. Espere! - Marie gritava mas de nada adiantava. Sua filha parecia estar surda. Corria e saltitava, cantava uma canção dessas de criança, e tornava a correr, como se fosse impelida a isso, como se fosse uma ordem. O caminho que percorria ia dar no bosque. Uma névoa densa começou a tomar conta do local, e a mãe perdeu de vista sua filha. Chamava por ela, gritava seu nome, mas já era tarde. Sofia se embrenhara pelo bosque.

- Sofia, você sabe cavar? - perguntou Anna.
- Não sei Anna, mas para que cavarmos? Podemos brincar a noite toda pela mata! - disse a menina. Anna tinha os olhos de uma doçura quase hipnotizadora. Conseguiu conquistar a menina Sofia, e também conseguia fazer com que realizasse seus desejos. Sofia começou a cavar com as mãos um pequeno buraco.

- Está bom assim? - perguntou a menina ofegante.
- Um pouco mais - disse a bonequinha com os olhos tristes. Anna mudara de feição. Os olhos doces e alegres mudaram de repente. Estavam foscos, tristes e caídos, olhando para baixo como se quisesse esconder de sua amiga a sua tristeza. Subitamente Anna virou-se para Sofia e disse que ela tinha que descansar.

- Mas descansar? Por quê? Temos a vida inteira para brincarmos, comermos doce-de-leite debaixo da árvore do jardim - mas Anna não dava ouvidos, estava triste demais por ter que partir. Sofia olhou para a bonequinha e percebera sua tristeza. Não entendera a razão por ter que deixá-la naquela pequena cova improvisada. Porém não podia deixar de fazê-lo, Anna mandou que a colocasse em sua "cama" e que a cobrisse. Antes, disse à menina que um dia voltaria.

- Você vai acordar então?
- Não Sofia, somente me tornarei em uma nova boneca. Essa que está vendo ficará aqui para sempre - e com os olhinhos caídos deitou-se em sua cova e disse "até logo".

Sofia, depois de cobrir Anna voltava para casa e no caminho encontrou sua mãe, desesperada. Abraçou-a e adormeceu instantaneamente, como por mágica. No dia seguinte, sua mãe ao acordá-la, perguntou:

- Sofia, o que aquela boneca está fazendo debaixo da árvore do jardim?

Brennah Enolah