quarta-feira, 12 de março de 2008

Os Girassóis



- O que a senhora faz? - perguntou-lhe o médico.
- Eu tenho uma plantação de girassóis.

Com os dedos batendo sobre a mesa e com uma expressão pensativa, o doutor tentava entender o que sua paciente tinha. Rose era bonita, mas o tempo já havia deixado marcas em seu rosto que agora já se tornara flácido e com rugas. Ela morava sozinha, mas de uns tempos para cá, Rose já não podia mais ficar só. Fora mandada para o médico pela sua amiga, Marie, que não agüentava mais vê-la daquele jeito.

Rose, que não sabia de nada, estava inquieta. Queria saber o motivo de estar em um consultório psiquiátrico. Era normal, fazia seus afazeres como de costume e não perturbava ninguém. Adorava seus girassóis e dedicava todo o seu tempo a eles, pois era sua única ocupação. O médico ainda insistiu e fez mais algumas perguntas.

- Tudo bem, madame Rose, mais algumas perguntas - e tomando fôlego prosseguiu - A senhora tem uma rotina de vida normal? Dorme regularmente?

- Sim doutor, sou uma pessoa normal. Não entendo o motivo pelo qual estou aqui. A minha única ocupação são meus girassóis. Cuido deles como se fossem meus filhos! - enquanto a senhora falava, o doutor começava a entender o motivo da sua vinda.

- Mas é claro - pensava consigo mesmo - ela deve dedicar-se totalmente aos girassóis e esquecer de si mesma. Dever ter uma obsessão.

Então, depois de ouví-la, o doutor pediu que fosse para casa e que no dia seguinte iria visitá-la para que pudessem conversar melhor. Inicialmente Rose resistiu à visita, alegando desnecessária, mas o doutor insistiu dizendo que só queria ajudá-la. Rose entendeu, ainda que relutante. Ao chegar em casa, correu para sua plantação de girassóis, e com os olhos rasos d'água, disse baixinho.

- Oh, meus queridos! Estou de volta! - foi rapidamente pegar o regador. Sua amiga, que queria saber como foi a consulta, ao ver Rose no jardim correu para fazer-lhe uma visita. Ao olhar aquela cena, Marie não conseguiu conter o desapontamento.

- Rose, por favor, pare com isso! Não vê que não pode mais continuar assim? - mas ela não escutava, estava surda e a única coisa que dizia era: "Olá meus filhos! Meu girassóis queridos!".

Marie não suportava ver sua amiga naquela situação. Cortava-lhe o coração quando via aquela cena deprimente. Rose não era assim, mas deixou-se dominar. Esqueceu de tudo, até mesmo de si e somente dedicava-se àqueles girassóis. Não podia mais viver assim, não podia deixar que continuasse a viver assim. Correu para sua casa e chamou o médico.

- Doutor, peço que venha imediatamente. Rose precisa de ajuda! - mas ele não entendia o pavor de Marie. Para ele era somente uma obsessão que seria facilmente tratada. E o pânico que demonstrava não era compreensível.

- Mas minha senhora, sua amiga está bem, não há com o que se preocupar! É somente uma obsessão, cuja cura é fácil - mas Marie não descansou e insistiu.

- Doutor, por favor eu peço que venha rápido!

Marie não se conformara com a vida que sua amiga estava levando. Já havia ido longe demais, e somente um tratamento realmente forte poderia curá-la. Não demorou muito para que o médico chegasse. Ao olhar de longe, viu Rose com uma regador em mãos e cantarolando para seus girassóis. Marie veio de encontro a ele, e mostrou-lhe os girassóis de Rose. Ao olhar para aquela deprimente cena, de uma mulher cantarolando enquanto regava um grande gramado, colocou as mãos na cabeça, pasmo. Percorreu todo o jardim com os olhos e nenhuma pista dos girassóis. Era um gramado nu, sem flores nem frutos. Os girassóis, somente Rose via.

Brennah Enolah