terça-feira, 25 de março de 2008

Declarações de um devaneio; conclusões de um despertar


Eu adoro o narcisismo.
Olhar para minha face
Descorada, acabada,
Contemplando minha decadência.


Eu adoro a fantasia,
Adoro o sonho.
A realidade castiga minha alma,
Assim como eu também a castigo.

Eu adoro a mediocridade,
De sentir por um momento ser superior.
Adoro as pessoas
E a necessidade de se distanciarem

Eventualmente adoro a mim mesma
De uma maneira egoísta.
Adoro a solidão, o vazio existencial.
O quarto escuro da minha alma.

Ao acordar de meus devaneios
Sinto meu coração apertado,
Com meus sentimentos esmagados,
De uma coração que sofre sem razão.

Minhas divagações são meu alento,
Minha fuga desse mundo indolente.
A realidade é minha carrasca,
Recordando que vivo nesse mundo torpe e doente.

Brennah Enolah

sexta-feira, 21 de março de 2008

Liberte-se


Quando alguém diz:"Essa roupa não está legal...", eu normalmente não dou importância. Quando o mesmo alguém diz novamente que essa roupa não está legal, e ainda diz que estou ridícula, também não dou importância. Deveria? Se deveria ou não dar importância, não sei. A única coisa que realmente sei é que não me importo com a opinião alheia, desde que esta esteja de acordo com a minha, em se tratando de roupa, é claro.

Quando alguém diz - pode ser o mesmo alguém, se preferir - que a música que escuto é um lixo, dependendo do alguém, mando a pessoa para um lugar não muito agradável. E qual a razão de eu fazer isso? É simples! Para mim basta a minha opinião. Posso ser chamada de teimosa, de desagradável, enfim, posso ser odiada, mas não abro mão da minha personalidade.

Resumindo, não sou eu quem está errada na história, mas sim o alguém. Esse alguém quando vê uma consultora de moda no fantástico, corre para aprender a se vestir bem; dá importância ao que uma mulher desconhecida fala sobre moda, sem se importar com o que gosta de vestir. Se a consultora diz que está na moda usar meia verde abacate pendurada na orelha, combinando com uma blusa de tricô abóbora, e ainda usar aqueles termos para justificar a aberração, como: "Isso torna o look desconectado", no dia seguinte acabam-se os estoques de meias verde abacates e blusas de tricô abóbora. E ninguém tem coragem de dizer, mesmo que baixinho, que isso é ridículo.

Quem quer que esteja lendo isso - eu espero que tenha alguma alma caridosa - pode achar que eu estou fazendo uma autopropaganda, mas não. Estou sim, clamando para que as pessoas sejam menos dependentes da opinião alheia e passem a andar com as próprias pernas. O fantástico é exibido somente aos domingos, então no decorrer da semana as pessoas não sairão de casa. São inseguras ao ponto de comprar o que lhes são sugeridos. Não têm vontade própria, criatividade de poder vestir-se da maneira com que desejar.

Mas fugindo um pouco do assunto moda, falemos então de música. Gosto - graças à Grande Mãe - não se discute. Existem mesmo muitos estilos de música, e não citarei nenhum, pois me limitarei ao Metal nosso de cada dia. Porém existem certos estilos que surgem na vida da pessoa justamente quando esta está na faculdade. "Oh, como a cultura demorou para entrar em minha vida... como pude viver sem o Caetano, Gil, sem os barezinhos com a rapaziada do curso de biblioteconomia. Isso sim é vida: beber vinho tinto, ouvir Mpb ..."

Isso definitivamente é horrendo. Barezinhos, mpb, vinho tinto - nada contra o vinho - o que fizeram com você rapaz! Realmente parece que quando começam a freqüentar a faculdade, o vírus da cultura elitizada invade o organismo saudável de um estudante. E qual a razão? "É chic".

Claro, a generalização aqui é feita somente para que o trabalho de redigir não seja penoso. Você aí, que está passeando por esse blog empoeirado, que se encaixa no perfil acima descrito, dou-lhe um conselho: Caro colega, liberte-se.

quarta-feira, 19 de março de 2008

O Primeiro Dia de Aula - do Cursinho


Como é deprimente os primeiros dias de aula. Você esperando que seja algo diferente, mas só encontra pessoas medíocres. Não que você seja superior, mas por pior que possa parecer, você acaba encontrando pessoas piores.


Não estou falando dos primeiros dias de aula do colégio, aqueles que você espera com tanta ansiedade, esta que acaba logo no segundo dia. Estou falando do primeiro dia de aula do cursinho. Quando você já acabou o ensino médio e tem que apelar para o cursinho. Intuitivamente, você pensa que as pessoas que vão ao cursinho são mais responsáveis, mais adultas – porque quem faz cursinho, conseqüentemente pensa em prestar um vestibular – porém o que encontra são pseudo-estudantes.


Os pseudo-estudantes estão rodeando-o com suas conversas vazias em plena aula de matemática – justo a matéria que você menos gosta, e por isso mesmo tem que prestar o máximo de atenção – dão risadas sobre o que aconteceu na novela das oito, discutem efusivamente sobre o Big Brother, e ainda falam sobre calças, sapatos e outras coisas que não cabiam naquela ocasião.

Mas o pior ainda está por vir. O trunfo do pseudo-estudante está nas críticas que faz ao professor – na aula dele – assim pensando que com essas críticas que, novamente não cabem, possam diminuir o professor em plena aula. Às vezes funciona, mas infelizmente você precisa da aula para poder ter uma noção, ainda que basiquíssima, sobre a matéria, porém tem que dividir a atenção dos seus ouvidos com a aula propriamente dita, e com as críticas dos Jabores ao seu redor.


Aí você se pergunta: “Porque eu?”. É isso mesmo, você foi o premiado. Você que detesta estudar, mas o faz porque precisa; você que tem plena consciência de que está ali por livre e espontânea pressão de você mesmo – pelo fato de não ter passado no vestibular passado e prometido, num daqueles balanços de fim de ano, de que estudaria de verdade – você que preferiria estar lendo Júlio Verne foi o premiado com um pacote fechado de bestas raivosas ao seu redor. Sem direito a devolução e troca.


A vida é cruel amigo, mas com essas crueldades você acaba por tirar proveito disso. Então você tem uma idéia, aliás, uma boa idéia. Liga o computador, abre o Word e começa a escrever sobre o seu primeiro dia de aula. Do cursinho.

Brennah Enolah

quarta-feira, 12 de março de 2008

Os Girassóis



- O que a senhora faz? - perguntou-lhe o médico.
- Eu tenho uma plantação de girassóis.

Com os dedos batendo sobre a mesa e com uma expressão pensativa, o doutor tentava entender o que sua paciente tinha. Rose era bonita, mas o tempo já havia deixado marcas em seu rosto que agora já se tornara flácido e com rugas. Ela morava sozinha, mas de uns tempos para cá, Rose já não podia mais ficar só. Fora mandada para o médico pela sua amiga, Marie, que não agüentava mais vê-la daquele jeito.

Rose, que não sabia de nada, estava inquieta. Queria saber o motivo de estar em um consultório psiquiátrico. Era normal, fazia seus afazeres como de costume e não perturbava ninguém. Adorava seus girassóis e dedicava todo o seu tempo a eles, pois era sua única ocupação. O médico ainda insistiu e fez mais algumas perguntas.

- Tudo bem, madame Rose, mais algumas perguntas - e tomando fôlego prosseguiu - A senhora tem uma rotina de vida normal? Dorme regularmente?

- Sim doutor, sou uma pessoa normal. Não entendo o motivo pelo qual estou aqui. A minha única ocupação são meus girassóis. Cuido deles como se fossem meus filhos! - enquanto a senhora falava, o doutor começava a entender o motivo da sua vinda.

- Mas é claro - pensava consigo mesmo - ela deve dedicar-se totalmente aos girassóis e esquecer de si mesma. Dever ter uma obsessão.

Então, depois de ouví-la, o doutor pediu que fosse para casa e que no dia seguinte iria visitá-la para que pudessem conversar melhor. Inicialmente Rose resistiu à visita, alegando desnecessária, mas o doutor insistiu dizendo que só queria ajudá-la. Rose entendeu, ainda que relutante. Ao chegar em casa, correu para sua plantação de girassóis, e com os olhos rasos d'água, disse baixinho.

- Oh, meus queridos! Estou de volta! - foi rapidamente pegar o regador. Sua amiga, que queria saber como foi a consulta, ao ver Rose no jardim correu para fazer-lhe uma visita. Ao olhar aquela cena, Marie não conseguiu conter o desapontamento.

- Rose, por favor, pare com isso! Não vê que não pode mais continuar assim? - mas ela não escutava, estava surda e a única coisa que dizia era: "Olá meus filhos! Meu girassóis queridos!".

Marie não suportava ver sua amiga naquela situação. Cortava-lhe o coração quando via aquela cena deprimente. Rose não era assim, mas deixou-se dominar. Esqueceu de tudo, até mesmo de si e somente dedicava-se àqueles girassóis. Não podia mais viver assim, não podia deixar que continuasse a viver assim. Correu para sua casa e chamou o médico.

- Doutor, peço que venha imediatamente. Rose precisa de ajuda! - mas ele não entendia o pavor de Marie. Para ele era somente uma obsessão que seria facilmente tratada. E o pânico que demonstrava não era compreensível.

- Mas minha senhora, sua amiga está bem, não há com o que se preocupar! É somente uma obsessão, cuja cura é fácil - mas Marie não descansou e insistiu.

- Doutor, por favor eu peço que venha rápido!

Marie não se conformara com a vida que sua amiga estava levando. Já havia ido longe demais, e somente um tratamento realmente forte poderia curá-la. Não demorou muito para que o médico chegasse. Ao olhar de longe, viu Rose com uma regador em mãos e cantarolando para seus girassóis. Marie veio de encontro a ele, e mostrou-lhe os girassóis de Rose. Ao olhar para aquela deprimente cena, de uma mulher cantarolando enquanto regava um grande gramado, colocou as mãos na cabeça, pasmo. Percorreu todo o jardim com os olhos e nenhuma pista dos girassóis. Era um gramado nu, sem flores nem frutos. Os girassóis, somente Rose via.

Brennah Enolah

domingo, 9 de março de 2008

A Virada


O luar estava diferente, envolvendo tudo com uma atmosfera nebulosa e tristonha. Sempre pensativo, Augusto costumava caminhar de madrugada pera pensar na vida, tentando com isso mudar sua existência. A vida, para ele, tem sido muito dura, e não sabia porque era tão castigado assim. Não merecia a crueldade com que era tratado pela vida, pois mesmo assim não reclamava da sua condição. Aceitava os fatos, simplesmente porque não podia mudá-los.

Entretanto estava pensando em como mudar tudo isso, para libertar-se de tanto sofrimento e poder enfim viver normalmente. Não era pouca sua desgraça, há dois dias perdera a mãe, vítima de um acidente de carro - causado pela sua distração - era explorado em seu trabalho, não tinha amigos, não tinha mulher, não tinha esperança. Até mesmo a sua esperança o abandonou. Se morresse ninguém daria sua falta. Se insistisse em viver, era indiferente. Sua única companhia era o seu diário onde registrava todos os dias os fatos de sua infelicidade permanente.

Um dia, ao dirigir-se ao trabalho, um mendigo atravessou a rua e veio em sua direção. Logo que o mesmo se aproximou, tentou defender-se como se já esperasse a bofetada. Mas num gesto humano e misericordioso, o pobre mendigo consolou-o como se soubesse da sua desgraça.

- Não há necessidade de temor, pobre amigo. Se a vida o castiga tente perceber o motivo pelo qual sofre, pois nenhum castigo é dado de graça - e olhando totalmente atônito para o mendigo, Augusto perguntou-lhe com uma impaciência exagerada.

- Como pode dar-me conselhos? Como pode saber do meu sofrimento, um pessoa como você, que mal sabe da sua vida? - e com um gesto desdenhoso disse - Olhe para você, o único que deveria ser chamado de pobre é o senhor e por favor, deixe de atormentar as pessoas com suas palavras encharcadas da sua eventual bebedeira, pois para dizer tais tolices, somente deve estar bêbado.

Numa última tentativa de poder ajudar, o mendigo olhou para Augusto e disse como se fosse um profeta.

- Você, meu rapaz, mal sabe a razão do seu sofrimento. Chama-me de pobre, mas é tão pobre ou mais que eu, sendo que mal consegue dominar a própria vida. Eu sou pobre, não tenho o que comer, mas domino a minha vida - e continuando com um tom de total segurança - e se estou aqui hoje, nessas condições é por minha culpa. Quem domina a própria vida, pode atrair alegrias e até mesmo, as desgraças - e saiu sem rumo, como sempre o fizera.

Augusto não sabia o que dizer, o que fazer. Aquele miserável dissera-lhe o que jamais alguém lhe disse, e pior ainda, acertou em cheio. Augusto era fraco, não sabia tomar decisões, não conseguia domar sua própria existência deixando-se levar como um barco à deriva. Onde o destino o colocasse, ou o que pudesse fazer com o curso de sua vida não era de seu interesse. Vivia pelo simples fato de existir como matéria, porém não pensava, não tinha capacidade de decisão. Era uma marionete em que todos pudessem movimentá-la e manipulá-la. Ainda um pouco assustado deu-se conta de que já estava atrasado para o trabalho e teve de correr para chegar logo. No caminho fora pensando sobre o que acabara de ouvir, como se aquelas palavras revirassem todo o seu eu.

Chegando ao trabalho tentou passar despercebido para que ninguém desse conta de que estava chegando atrasado, mas ao chegar em sua mesa foi surpreendido pelo seu chefe que com toda a sua arrogância repreendeu-o pelo seu atraso.

- Mas você, Sr. Augusto, não consegue se quer chegar pontualmente! O que acha que é? Alguém que pode fazer o que bem entende de seus horários? Acha que aqui não tem que dar satisfações?
Você mais uma vez mostrou que além de fraco é um incapaz! - enquanto seu chefe gritava insultos contra ele, olhou ao redor e percebeu que todos pararam os seus afazeres para rir. Riam dele, outros até concordavam com os insultos e gritavam: "O Augusto é mesmo um fraco!" e riam como se estivessem assistindo a uma comédia. Num instante tudo o que ouvira do mendigo voltou à sua mente como um filme, e de repente olhou bem para o seu chefe e numa explosão de raiva pegou a tesoura que estava em cima da mesa e começou a agredi-lo enquanto gritava.

- Quem é o fraco agora! Quem é o incapaz! - estava louco, totalmente descontrolado de ódio. Todo o ódio reprimido há anos fora descarregado contra o seu chefe, que agora agonizava no chão ensangüentado.

Todas as pessoas estavam pasmas, estáticas e assustadas. O riso anterior transformou-se em lágrimas, em desespero. Augusto, que estava todo sujo de sangue, olhou agora triunfante para a platéia do massacre.

†Brennah Enolah†