sábado, 22 de setembro de 2007

O Adeus de Clara

Em seu quarto, Clara pensava em como poderia se libertar. Já não poderia mais viver em seu mundo, onde a única pessoa que habitava era ela. As paredes começaram a sufocá-la, não havia mais oxigênio, tudo estava saturado. Antes pensava que o dia de sair e ver o mundo demoraria, mas agora chegou mais rápido do que imaginava.
Quando abriu a janela de seu quarto a luz cegara suas retinas, chegando a cair no chão tamanho era o desconforto. Entretanto, o ar puro renovara sua face, penetrando em seus pulmões e retirando toda impureza de sua alma. Recuperando-se levantou e conseguiu olhar o que desaprendeu a ver. A paisagem mudara, as flores mais vivas, os animais alegres. Ainda que fosse bom na sua mente tudo parecia estar confuso: sua presença parecia ser dispensável. Tudo estava belo, como sempre foi ou até mesmo melhor que antes. Definitivamente Clara não fizera falta.

Resolveu dar um passeio. Andou pelas calçadas cobertas de folhas de outono, apreciou a beleza da paisagem. Ainda que tudo fosse belo, em seu peito havia uma tristeza, uma mágoa que queria sufocar sua capacidade de apreciar a beleza e ver somente sua existência miserável. Vozes em sua cabeça diziam: "o seu exílio não serviu de nada, você não faz falta".
Fechou os olhos e começou a andar guiada pelo vento. Seus cabelos voavam como as folhas do chão, queria sentir por um minuto a vida. Seus pés sentiam o orvalho, sua pele os raios de sol. De repente abriu os olhos e virou-se para o caminho que percorreu. Admirada, fechou novamente os olhos e pulou dizendo: "adeus".